terça-feira, 2 de novembro de 2010

Relatório do quinto dia

Quinta-feira              23/09/2010                 5° dia              5° Ano
               
Hoje a disciplina a ser trabalhada é Geografia. Há 26 alunos na sala e a turma está organizada em dupla, pois, alguns alunos não possuem livros, e para que não seja necessário passar as atividades no caderno, a professora disse que fizessem assim.
O texto trabalhado pelos alunos tem como título “A desigualdade social do Rio de Janeiro” e as perguntas referentes ao texto foram as seguintes:
1)      Quais são os direitos do artigo 6° da Constituição?
2)      Quais são as necessidades vitais básicas do ser humano enumeradas no artigo 7°?
3)      O que é a Constituição?
4)       O que é exclusão social?
5)       O que é Estatuto da Criança e do Adolescente?
6)      Você acha que é possível aprender sem freqüentar uma escola?
7)       Por que as crianças abandonam a escola?
Os alunos deviam ler o texto e responder as questões no caderno. Fiquei esperando mais ou menos meia hora para circular na sala e verificar como estavam respondendo as questões, a professora estava corrigindo alguns trabalhos que ela havia passado em dias distintos dos dias do meu estágio.
            Quando circulei entre os alunos, percebi que estavam ansiosos, querendo achar as respostas para as perguntas, mas não tinham paciência em ler, tentando “adivinhar”. Tentei conversar com eles argumentando que, embora ler pareça uma coisa chata, é muito importante, e quando fazemos com atenção, torna-se uma fonte de prazer. Disse também que se eles conseguissem ler ao invés de caçar as respostas, ganhariam mais tempo e seria mais eficiente.
            Alguns alunos quando conseguiam encontrar a resposta, me perguntavam se a resposta estava correta, outros preferiam perguntar à professora. Depois de aproximadamente uma hora e quarenta minutos, a professora disse que iria iniciar a correção, e chamou uma aluna pelo nome para que respondesse a primeira questão. A aluna deu a resposta incompleta oralmente, então, a professora pediu que outra aluna respondesse. A correção prosseguiu da mesma forma, quando estava na 4ª questão tocou o sinal para o recreio. Quando voltaram do recreio, a professora prosseguiu na correção dos exercícios, sempre escalando um aluno para responder. Após os alunos escolhidos terem respondido as questões, a professora mandou que esses mesmos alunos colocassem as respostas correspondentes às perguntas que haviam respondido no quadro, para que os que ainda não tivessem feito poderem copiar.  
            A questão de número 6 era pessoal, então, a professora escolheu alguns alunos para que lessem suas respostas. Segue abaixo o depoimento de alguns deles:
Quem não estuda não aprende nada”
“Não, por que na escola a gente aprende a ler e escrever e a ser alguém na vida”
“Sim, por que podem aprender com outras pessoas”   
Após ouvir o depoimento de alguns alunos, elogiou as respostas e chamou de um em um aluno para que corrigisse os cadernos. Porém, o que pude observar na prática da professora, é que sua metodologia não proporciona nenhuma problematização das questões. Em momento algum houve discussão do texto, os alunos não são estimulados a refletir sobre os assuntos abordados, principalmente a temática que foi trabalhada, seria uma excelente fonte de discussão e reflexão crítica. Segundo Freire, “O diálogo começa na busca do conteúdo programático”, logo, um professor comprometido com a educação irá refletir sobre sua prática antes de realizá-la. Continuando com o pensamento de Freire, ele nos dirá:
“Daí que, para esta concepção como prática da liberdade, a sua dialogicidade comece, não quando o educador educando se encontra com os educandos-educadores em situação pedagógica, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes” (1987p.47). 
Diálogo é uma coisa que praticamente não acontece naquele espaço, nem mesmos os alunos conversam entre si, pois, a professora os adverte, ameaçando-os de acrescentar mais exercícios no quadro, caso fiquem conversando. O que acaba se tornando uma contradição, pois, se o professor passa exercícios para que o aluno aprenda e ao mesmo tempo, pune os alunos passando exercícios, o que pode ficar no pensamento dos alunos é que estudar é de fato uma punição e não um ato importante e gratificante.
Bem, voltando à descrição da aula - a professora dividiu a turma em grupos, deixando que eles se organizassem a escolha deles, porém, priorizando os que estivessem mais próximos uns dos outros, e depois de haverem feito isto, distribuiu uma cartolina para cada grupo, pediu que fizessem apenas a margem e em seguida, perguntou quantos alunos haviam trazido as imagens que tinha solicitado anteriormente para a confecção dos trabalhos. 
O tema era sobre a violência infantil, porém, alguns alunos disseram não ter trazido as figuras por que os pais não compram jornal. Alguns disseram ter conseguido com o vizinho, e os alunos que não trouxeram as figuras, ficaram encarregados de fazer um trabalho sobre as placas de trânsito.
Enquanto os alunos faziam o trabalho em grupo, os demais que não conseguiram as figuras, deviam fazer uma produção de texto sobre a primavera. A professora disse que seis linhas era o suficiente e que após fazerem o texto, fizessem também um desenho relacionado ao assunto.
Quanto aos alunos que faziam os trabalhos na cartolina, a professora orientou que cada um procurasse fazer alguma coisa, ao invés de deixar o colega fazendo tudo sozinho. Desta forma, observei que um fazia a margem com lápis, outro passava a canetinha, outro escrevia, outros recortavam as figuras, outro colava e assim sucessivamente. Percebi também que dentre os alunos, um preferiu desenhar, o que fez muito bem, retratando a violência de um adulto contra uma criança.  Foi se aproximando a hora da saída, então, a professora mandou que guardassem o material, porém, os trabalhos já estavam quase terminados.

Referência Bibliográfica:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17ª.ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987 – p.47. 

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