sábado, 6 de novembro de 2010

Rotina e perfil da turma do 1° ano

O horário de entrada é as 11:00 horas, o recreio é ao meio-dia e a saída da turma é as 14:40 minutos, sendo que eles saem da sala às 14:00 e trinta minutos e ficam aguardando no pátio o horário da saída. Quando adentram a escola, vão direto para a sala de aula.
A turma é bem pequena, constando de apenas 15 alunos inscritos, e a média de freqüência é de dez alunos. Conversando com a professora, fui informada que exceto três alunos, o restante está num nível bom de desenvolvimento, ou seja, todos estão com possibilidades de passar para o 2° ano.
            Dos três alunos que não se enquadram neste perfil, dois ficarão retidos na turma este ano – isto por que segundo a professora, um possui um baixo rendimento, apresentando dificuldades de desenvolvimento  e o outro por que o que lhe falta é o apoio da família, pois, a criança apresenta um quadro de baixa alto-estima e isso dificulta seu aprendizado. 
Segundo a professora, o terceiro aluno é um autista, que não tem condições de passar, embora conseguiu avançar em muito no aspecto da socialização. Porém, a Secretaria de Educação do município, entende que a inclusão dos alunos portadores de neceessidades especiais seja puramente social, não exigindo nenhum esforço para que o alunos desenvolvam habilidades e competências. Logo, mesmo não estando em condições de avançar para outra série o aluno será aprovado, pois não pode ficar retido. O  aluno que possui baixo rendimento não apresenta nenhuma justificativa clínica para o seu comportamento, pois, embora segundo a professora já tenha solicitado à família que o levasse ao médico a fim de verificar se o mesmo possui alguma patologia, até hoje não obteve resposta por que a família não demonstra preocupação com o aluno e o terceiro por que se trata de uma criança muito carente em aspectos emocionais, econômicos e que a professora acredita que isto contribui para sua dificuldade de desenvolver-se como os demais.
Segundo o relato da professora, esse aluno quando chegou à turma no início do ano apresentava o quadro de uma criança muito triste, hoje, já consegue ver em seu rosto mais confiança, mas ainda lhe falta segurança.
A professora disse que esse aluno fica em casa com seus dois irmãos mais velhos – um de dezesseis e outro de nove anos, sendo que o de dezesseis fica numa cadeira de rodas, então quem cuida dele é o de nove anos, pois, a mãe é separada e trabalha fora para o sustento da família. Desta forma, a professora acredita que este é um fator que pesa no desenvolvimento do aluno.
Ao analisar as palavras da professora, lembrei-me do texto da MOYSÉS –" Setenta e cinco crianças que não aprendem na escola" - apontando que quando se trata de apontar causas para o fracasso escolar, elas sempre são relegadas à família, a criança, mas nunca à escola. É evidente que as condições sociais em que vive uma criança podem afetar de alguma maneira o seu desenvolvimento, pois, a criança não aprende somente quando chega à escola. Ela traz consigo saberes que são adquiridos em sua vivência na família, sociedade, logo, uma criança que tenha um capital cultural mais amplo, pode ser que tenha mais facilidade do que uma criança cuja realidade não seja a mesma, porém, este fato não pode justificar o sucesso ou insucesso do aluno.
Quanto à formação da professora, disse ter entrado no curso Normal com 13 anos, e durante seus estudos trabalhava como explicadora, não por que gostasse, mas por necessidades econômicas, a fim de poder ajudar com as despesas da família. Após ter feito o curso Normal, fez Formação Geral e atua há mais de 15 anos como professora. Trabalhou um ano como contratada, e após prestou concurso para a prefeitura. Disse que já gostou mais do que faz, hoje, acredita que o papel da escola está ficando cada vez mais complexo, devido ao excesso de atribuições que são relegadas à escola.

Referência Bibliográfica:
MOISÉS, Maria Aparecida Affonso. A institucionalização invisível: crianças que não aprendem na escola. Campinas: Mercado das Letras, São Paulo: FAPESP, 2001. p 15-49.

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